Resenha | Meus desacontecimentos de Eliane Brum
Se tem uma coisa que gosto imenso de fazer, é
passear entre prateleiras, principalmente as da Livraria Cultura... no Conjunto
Nacional. Sempre que estou nas imediações, me atrevo por lá... e, saio a caça
de títulos-capas-personagens-tramas e seus respectivos autores. Geralmente
procuro pelo que conheço e reconheço mas, eventualmente acabo diante do
desconhecido.
Raramente saio de mãos vazias. Amparada pelo meu
instinto de leitora, já descobri muitos dos meus livros favoritos... no acaso
dos passos-toques-e-olhares.
Na noite de ontem... depois de sair do cinema, escolhi
repetir o ritual. Caminhei seguro por aquele universo peculiar — observando as coleções, sem compromisso, o que me fez
recordar um Título — um desses lançamentos recentes que aguçam o paladar
— que me levou ao balcão de atendimento, para
uma rápida consulta.
E, enquanto aguardava pela minha vez... observei os
livros deixados ali, para serem devolvidos as prateleiras. Dentre eles, a capa
branco-leite, com um desenho simples-gostoso — que me fez ir e vir de minha infância — se ofereceu ao meu olhar e eu o degustei num apropriar-se morno. O título
— num estalar de dedos — me remeteu à Pessoa... e pronto! — estabelecemos uma espécie de contato imediato de
primeiro grau.
Como quem tem sede... folheei as primeiras páginas e,
para minha surpresa, reconheci a autora de outros cenários — era o nome
por trás das colunas lidas pela manhã, antes
da vida acontecer. Avancei por entre os meus espaços de memória. Virei as páginas
de maneira febril, aterrissando outras realidades.
Me perdi e
fui trazida de volta... pela voz do atendente, que me retirou daquele transe,
com suas respostas cheias. Ele tinha em mãos o livro-outro-lançamento...
Às vezes, penso que os atendentes da Livraria
Cultura são magos disfarçados — eles sempre
conseguem o que eu quero-preciso... e estão sempre prontos para falar de
autores-livros. Não fazem caretas quando anuncio que nas minhas prateleiras há
diferentes versões de um mesmo livro.
E, com os dois livros em mãos... me dirigi ao caixa.
Enquanto esperava, fui desbravando a realidade de Eliane Brum, que escolheu
contar sua vida através das palavras —
em narrativas que são diálogos cheios-imensos-únicos. Logo ao abrir o livro nos
deparamos com sua voz, de maneira inquieta, a se questionar — e ao
fazê-lo, estende o questionamento a nós, leitores —, como cada um inventa uma vida?
Como cada um cria sentido para os dias, quase nu e com tão pouco? Me sentia
acabar-desmoronar... e recomeçar.
Eliana Brum, em cada página, nos convida a passar um
tempo em sua companhia... como se nos esperasse para o famoso chá das cinco, com
a mesa posta e as histórias enfileiradas para uma troca.
Eu degustei cada palavra... realidade e ficção.
Leitor e Autor... dentro e fora. Fora e dentro. O lado A e B de uma trama, da
qual a gente se apodera, por ser também a nossa história, contada por uma
mulher que vai pincelando a si... melhorando e piorando esse passado que nos
acena de dentro das páginas-corpo-memória.
Ao final, ali na página cento e dezoito, você
encontra a palavra silêncio. Pois
bem, não se sabe se vida ou morte, se fim ou começo, se verdade ou mentira. Mas
eu solucei. Parei, fiquei muda, sem ar... e novamente me senti acabar. Desde
então... ainda não voltei para casa-corpo... tempo presente. Mas não tenho
pressa, porque já recomecei a leitura e me vi a bordo de outros passados...
igualmente meus-dela-alheios, porque como propõe o livro... estou a me
desacontecer.
6 comentários
Por seu intermédio, li apenas uma passagem e senti que, ali, podemos desacontecer com prazer...
ResponderExcluirObrigada por sua visita e volte sempre ♡
ExcluirHoje vaguei por suas linhas! e aqui, movida pela tua mão eu respiro tudo aquilo que me levou até tu... sua sensibilidade me abraça, bambina mia.
ResponderExcluirGrazie per tutti
Obrigada por sua visita e volte sempre Mariana ♡
ExcluirAh essas visitas que fazemos às livrarias, eu mesmo me perco por horas e horas na Saraiva!
ResponderExcluirwww.estante450.blogspot.com.br
Entrar na livraria é como uma terapia né cassia?
ExcluirObrigada pela sua visita
Obrigada por comentar.
Responderei em breve, por isso ative as notificações.