RESENHA | Orgulho e preconceito de Jane Austen

by - 28 março

Orgulho e preconceito de Jane Austen

“Só pense no passado quando 
as lembranças lhe trouxerem prazer!”

“Orgulho e preconceito”

Faz algum tempo que considero 'orgulho e preconceito' um cúmplice do meu outono... basta acontecer a estação das folhas secas para eu buscar o livro na prateleira e sentir em minha pele a velha {conhecida} sensação... de primeira vez.

Devoro o livro com a ansiedade típica de quem torce para que, na última página, Mr. Darcy conquiste a teimosa Elizabeth Bennet. Eu sei, que esse é o desfecho da trama, mas é o caminhar pelas páginas até o ‘happy end’ que me fascina… a maneira como Jane Austen alinhavou uma das mais fascinantes histórias de amor... que sobrevive as prateleiras e parece se reinventar nas páginas exaustivamente publicadas.

Os fatos se misturam… os desenhos se formam… os olhares se atravessam… as palavras e todas as formas de silêncios se precipitam! Os acenos ficam presos nos dedos das mãos… e o beijo que nem mesmo foi escrito: acontece... para o leitor mais atento, que o enxerga nas entrelinhas de uma trama, que não tem pressa de acontecer. Podemos sentir todas as precipitações que antecedem ao toque.

Às vezes, o ensejo do beijo é muito mais interessante e fascinante que o próprio beijo. Quantas vezes não somos tragados pela vontade que se encerra? A pele anuncia a premissa e nós a vivemos, apenas do lado de dentro… é como fumaça, que num instante está lá e no outro é levada pelo vento, para longe dos olhos...

Jane Austen soube dosar as reações de seus personagens. Até um vilão entra em cena para desviar por alguns instantes a atenção de uma Elizabeth Bennet... ferida em seu orgulho, pela fala aguda de Darcy — 'ela é bonita, mas não o bastante para mim'. O troco vem algumas páginas depois, quando ele completamente apaixonado por essa mulher que não e deixa domar... se declara — 'em vão tentei lutar contra o que sinto. Mas de nada adiantou. Não posso reprimir meus sentimentos. Permita que eu lhe diga como são ardentes os meus sentimentos e a minha admiração por você'. Ela não teve pena, estufou o peito e o recusou — ferindo-o em suas certezas. Até então, ele não pensava que existisse uma única mulher capaz de tamanha afronta.  

Ler Orgulho e Preconceito é lembrar que o amor não é para os dias de hoje… onde tudo é para ontem. A pressa se estabeleceu nos olhos, nos movimentos, nas falas de todos nós, por toda a parte. Há uma busca incessante por alguém que nem existe. Queremos nós mesmos, vestido de outro. Não queremos conhecer. Mudar e adequar é o que move a maioria de nós. Como se fossemos livros na prateleira. Não gostei da capa, do prefácio. Não gostei, mas vou ler. Passadas algumas páginas, bufamos.

Amor é coisa para depois… amanhã, como no filme ‘e o vento levou’. Pede dedicação, entrega… cuidados e, sobretudo, tempo para existir. Pede que a gente desperte sem o outro e ainda assim no outro. Pede que a gente silencie e suspire e conte os passos até estar diante do olhar que te despe e veste ao mesmo tempo. Pede um pouco mais de alma-calma... que a gente se acostume ao que é defeito-qualidade-efeito.

Ler ‘orgulho e preconceito’ é aprender que o dia seguinte está a um minuto de nós, mas esse breve instante pode ser como aquele estranho que passa por nós, sem tempo para ficar nos nossos olhos.


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12 comentários

  1. Instigante, como sempre, Lunna! Agora, Orgulho E Preconceito tornou-se urgente, novamente...

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  2. admirar seu ensaio sem pressa, recordando as palavras que você escreve com tanto estilo. muito bom!

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  3. Como não amar essa história? É instigante, é crescente, é, assim como o amor, algo que vai acontecendo, crescendo a cada instante (página), até parecer não caber mais dentro de uma pessoa (um livro). O sentimento toma o ambiente, o ar... a história perdura e sobrevive às pressas do mundo. Da mesma forma que se diz do divino, o tempo do amor não é o tempo que as pessoas querem. Se hoje o imediato é latente, se as pessoas querem chegar antes mesmo de terem saído de seus lugares, há sempre a força dessas coisas a atropelar ou retardar o andamento convencional dos ponteiros cronológicos; simples de tão puras, mas complexas e intangíveis como as camadas de nuvens em céu azulado, asas que nos fazem pairar sobre o caos da velocidade e nos levam em viagens onde a certeza, a única certeza, é a emoção que nos toma... o resto é desenvolvimento da trama.
    Uma delícia correr os olhos por suas linhas, pelos seus argumentos, pela forma com que baila por este salão com suas letras e intenções. Esse livro também é um dos favoritos das minhas filhas e uma história que gosto muito. Assim como o prazer de ler seus textos. Muito bom. Abraço.

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  4. Orgulho e Preconceito é um dos meus livros favoritos, e fico feliz ao ver como essa história faz a cabeça de tantas pessoas mesmo depois de tantos anos depois de seu lançamento. E acho que é exatamente pelo motivo que falou, não é um romance rápido e superficial como os de hoje. Essa história continua conquistando corações por que assim como o amor verdadeiro, fala de algo além do nosso tempo. Adorei a forma como você escreveu suas emoções, me identifiquei muito! <3

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    1. muito obrigada a Lunna descreve cada detalhe minunciosamente que nos faz entrar dentro do livro.
      Volte sempre Girlady

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  5. É um dos meus livros favoritos, e o filme também, porem o livro me fez interagir mais que o filme. adorei seu blog e ja estou seguindo <3
    bjs bjs https://beperes.blogspot.com.br/

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    1. agradeço por imenso sua visita, seu feed back e tbm por esta seguindo o blog.
      volte sempre por aqui

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  6. Que texto mara! Me vez lembrar da primeira vez em que li orgulho e preconceito: tinha acabado de demitir de onde eu trabalhava e, num dia bem frio de inverno, sentei na porta do fogão à lenha (serra gaúcha, amores hahaha) e devorei o livro e uma lata de leite condensado cozido hahahaha nunca mais esqueci a experiência. Quero reler! E adorei a relação que fez com o imediatismo dessa geração que não tem tempo para esperar o amor acontecer. Que texto, que texto, que texto! Amei!

    https://dementelucidez.blogspot.com.br/

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    1. fico feliz que tenha gostado da resenha. Que jeito bonito de ler um livro, meu sonho rsrs
      volte sempre Jessica ❤

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